Em um misto de medo e de vontade
Numa chama fugaz de um desejo
Eu ainda recordo aquele beijo
Talvez fruto da nossa ansiedade
No inédito filme da saudade
O primeiro capítulo é gravado
Mas o Set agora interditado
Não permite nenhuma gravação
Censurou nosso trailer de Emoção
Nosso arquivo de amor foi sepultado.
Não passou de começo prematuro;
Nosso filme não foi nem exibido
O desejo em ti comprometido
Desfigura quimeras de um futuro
Nosso amor foi jogado no monturo
Num colosso de sonhos desiguais
O meu corpo sedento dessa paz
Nunca vai pelo teu ser saciado
Pois procuro um corpo libertado
Livre e leve e solto, e nada mais.
Vou fazer cemitério da memória
Enterrar os lampejos de vontade
Assistir outra estreia na verdade
De um papel corrompido pela glória
Onde a atriz componente da história
Nunca foi coadjuvante nem um dia
Ocupando o papel de maestria
É a única herdeira do teu peito
Viro a página, sem nada a ser feito
Transformando esse filme em poesia.
Adriana Sousa