No tempo das mesmas desesperanças e solidão, poetas escrevem suas metas.
Antes, a entrega insólita, depois, o amanhecer à luz da Divina Providência.
E assim se deu:
- Primeiro, disse do começo ao fim, o Poeta Augusto dos Anjos:
Versos Íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
- Depois, disse da lida, o Poeta Brás Costa:
Caro Augusto,
Eu também sepultei minhas quimeras
Muitas vezes bebi ingratidão
Passei anos sem ver as primaveras
Oscilando entre outonos e verão.
Também eu, me envolvi de solidão
Naufragado nos mares das esperas
Quase vi minha frágil embarcação
Afundar-se com minhas poucas eras.
Mas contudo, poeta, não me rendo
Não ataco essa vida (nem defendo)
Tem quem luta, e tem quem só almeja!
E assim ponho em risco a minha paga
Afagando essa mão que me afaga
E beijando essa boca que me beija.
Poeta Brás Costa.