O que diria o verão com a chegada do inverno,
Acabaria este inferno, dentro do meu coração?
E na terra, inda seca, pra ficar molhada
Chovesse, derramando-lhe com rigor
Extraordinárias gotas de chuva, pesada
E de outra nuvem, lenta, carregada
Brotasse um poema iluminado de amor?
Eu não suportaria a saída
Desse imenso precipício!
Mas, porque desde o início
Essa força tão entranha
Leva-me aos montes
Mais altos e verdejantes?
Se me fazes temer o abismo,
Diz-me porque tanta coragem
De seguir esse longo caminho
Tocando a minha viagem...
Talvez eu soubesse a razão...
Ser, a dita felicidade,
O meio e não o fim
De tudo que há em mim.
E contigo eu vivo, sempre
Sorvido pela paixão...
Gigantesco, tal o oceano
De muitas praias belas
Que vivem em solidão.
Receber de caudalosos rios
A água doce da chuva
E causar-lhe um destempero
Uma poesia interrompida
Pelas quebrantas da praia...
Do que houve em nós
E o que nunca aconteceu
Não é o sonho que morreu
É a morte do sonhador,
E o pranto das virgens todas.
É quando uma lágrima salta
Sentindo o abraço que falta
Que a tristeza se aproxima...
E nos traz de volta a vida
Numa grande inundação
Último ato da estação.
A constante fonte de luz,
Será depois da partida
Essa distância sem valor,
Que nos dá esse penar.
Só depois da despedida
Tudo há de começar
E compreenderás a dor.
Já é chegado o momento
De te falar do sentimento
Que nunca há de acabar
Em nós novamente soar
A música do nosso amor.
Lembrada daquele vento...
Pedro Torres