Eu ontem sonhei que estava
Na cozinha lá de casa
Comendo um prato de fava
Com carne assada na brasa
Quem é que diz que não presta
Feijão com "Arroz de Festa"
Batata-Doce, pirão
Tutano de "Corredor"?
Chega da um "Suador"
Que o suor pinga no chão.
Na janta xerem com leite
Ou o resto do almoço
"Não coma e logo se deite"
Mãe me adverte e eu ouço
Mas "inda" tenho apetite
E pai me faz um convite
E eu aceito sem frescura:
Na mão de pai e na minha
Um "Punhado" de farinha
E um "Taco" de rapadura.
Tendo um relógio que marque
Seis horas ou pouco mais
Se espalha um cheiro de charque
Aí ninguém dorme mais
À mesa, pai, mãe e filho
Dividem um pão-de-milho
Coalhada, bolo, café
E a metade de um queijo
Mas só sendo sertanejo
Pra saber isso o que é.
Parecia estar sentindo
Aquele gosto sem par
Meus olhos foram se abrindo
Comecei a despertar
Que desespero medonho
Pois percebi que era um sonho
Voltei pra realidade
Onde o sabor é distinto
E o gosto que agora sinto
É somente o da saudade.
Tem nada não, deixe estar
Que se Deus me permitir
Quando essa "Chuva" passar
Eu já sei pra onde ir
"Ajunto" aqui meus "Piquai"
E de "Mai" para "Abri"
"Arribo" pra meu sertão...
Oh! Que coisa pra não dar certo
É camelo sem deserto
E matuto sem feijão.
Do Padroeta Brás Costa, Lugano 04.10.2006